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terça-feira, 26 de julho de 2011

TREM DESINTEGRADO

Para Jaqueline, difícil não é o entra e sai do dia-a-dia, e sim essa imobilidade urbana


Fonte: Revista Naipe.
Por: Ivanir França.



Jaqueline Ferrari é uma morena de 1,70m, pernas torneadas que se desenham através do vestido, olhos negros brilhantes e lascivos, sorriso perfeito e safado. Após alguns goles de cerveja, a moça quebra o papo cotidiano e larga: “Eu me assumo: sou puta e sou feliz”.

Nessa toada, ela desabafa sobre as mazelas e as benesses dos ossos do ofício. Das entranhas de Belo Horizonte, onde iniciou a carreira, sente saudades da família e da comidinha mineira. Não muito da macharada. “Lá eu achei que não ia dar conta, era muito homem. Um entra e sai frenético, eu até parecia uma Bruna Surfistinha preta, uai”. Só que muito mais gostosa, ironiza com um sorriso de canto de boca.

O inesperado papo continua com um relato detalhado de perversões protagonizadas nas casas de massagem. Jaque é uma profunda conhecedora das intimidades humanas.

Mas a que surpreende mesmo é a Jaque politizada e preocupada com a mobilidade urbana da capital. Desde a sua chegada à Florianópolis ela mora no Ribeirão da Ilha e trabalha na cidade. A distância entre o sul ilhéu e o centro não incomoda. “O problema é a puta sacanagem desse transporte público”, rasga, irada, a morena. Na comparação inevitável entre os enlatados humanos mineiros e os florianopolitanos, a integração desintegrada insular salta aos olhos.

Ela conta que em BH os ônibus estão em péssimas condições de uso, mas a integração funciona - embora a capital mineira tenha quase seis vezes a população de Florianópolis. Uma alternativa encontrada são as vans e os microônibus, que desafogam o sistema público e o tráfego também. Para ela, o que falta é uma boa dose de empregabilidade dos planejamentos sobre o transporte público, que nunca saem das gavetas da Prefeitura.

Finda a noite, ela pega a bolsa - um verdadeiro cinto de utilidades -, chama o garçom e paga a conta. E pela primeira vez não mostra seu lindo sorriso: “tenho que pegar o ônibus”.

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