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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Censura em Santa Catarina

Já não basta este Estado ser atrasado no desenvolvimento geral em termos de Brasil, agora temos censura até no estádio de futebol, estamos retrocedendo!?


Federação Catarinense pode expulsar do estádio torcedores que protestarem contra CBF

Ricardo Teixeira estará blindado no jogo entre Avaí e Figueirense no próximo fim de semana no Orlando Scarpelli. Ao menos foi o que garantiu a Federação Catarinense de Futebol em comunicado divulgado em seu site.

De acordo com nota, a entidade repudia qualquer manifestação ofensiva realizada no clássico catarinense contra o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

A decisão, que teve apoio dos presidentes das duas equipes, cogita inclusive proibir a entrada dos torcedores no estádio. Leia abaixo a nota na íntegra:

A Federação Catarinense de Futebol vem a publico manifestar seu repudio contra qualquer manifestação ofensiva, realizada em jogos no território de Santa Catarina, direcionada ao Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Dr. Ricardo Terra Teixeira, bem como à própria CBF.

Especialmente com relação a informações veiculadas na imprensa referentes ao clássico entre Figueirense e Avaí, válido pela Série “A” do Campeonato Brasileiro, que será realizado no próximo domingo, 28 de agosto, no estádio Orlando Scarpelli, as presidências das duas equipes também se mostraram absolutamente contrárias a este tipo de atitude por parte de seus torcedores.

A FCF ressalta que este tipo de manifestação se configura como uma infração ao Estatuto do Torcedor, cujo artigo 13-A, inciso IV, dispõe: “São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo sem prejuízo de outras condições previstas em lei”- IV - “não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenofóbico”.

O parágrafo único deste artigo estabelece que “o não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sansões administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis”.

A Diretoria e o Presidente da FCF, Dr. Delfim Pádua Peixoto Filho, reiteram sua parceria e seu apoio à Confederação Brasileira de Futebol e seu Presidente, Dr. Ricardo Teixeira, que sempre foi um amigo e deu suporte ao futebol catarinense. Lembramos ainda que “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado ter sentença penal condenatória”, conforme trata nossa Constituição Federal, no inciso LVII do Artigo 5º.

A Federação Catarinense de Futebol deseja ainda que os jogos realizados no estado sejam momentos de confraternização e lazer para os torcedores, e que prevaleça o espírito esportivo, com paz entre as torcidas e destas com relação a todos os envolvidos no meio esportivo, sejam clubes, órgãos de imprensa ou entidades administradoras do desporto.

Assessoria de Imprensa - FCF



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Então a FCF tem o rabo amarrado ao Ricardo Teixeira!?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

OVERRATED

Fonte: Revista Naipe
Por: Thiago Momm
01/08/2011

Críticas às cidades em que passamos a maior parte da vida, quando não a vida inteira, nos incomodam bastante. Mil explicações a respeito podem ser suscitadas, mas a principal parece simplesmente: "Ei, não diga que fiz uma péssima escolha e estou jogando meu tempo fora; não me lembre que há lugares melhores para morar, se eu não posso estar lá agora."

É óbvio que quem mora em Florianópolis há muitos anos não está jogando o seu tempo fora. Os elogios dos cadernos de turismo fazem sentido. Um dia você é adolescente e vive o espírito leseira-com-savoir-faire de Santo Antônio de Lisboa, Lagoa da Conceição, Campeche, Ribeirão, Itaguaçu. Uma década depois, jornais e revistas do país e do mundo inteiro tentam prender esse espírito em fotos e palavras. Falam sobre manezinhos como contraculturalistas natos e suas vidas com mar, ostras, tainha, cachaça, desanuviamento, desaceleração.

Muitos passamos quase todos os dias apenas no trânsito e em partes sem-graça do centro da cidade, mas nem por isso as matérias são absurdas. Assim é o jornalismo de turismo, e Florianópolis merece boa parte dos adjetivos que ganha.

A partir das óbvias qualidades ilhoas, no entanto, nos supervalorizamos e falamos sem a devida paciência sobre nossos defeitos e limitações. Ao orgulho da própria terra se somam os elogios alheios – e ficamos bobos. As lindas meninas da ilha interpretam que são as mais bonitas do planeta (não são); os profissionais ligados ao turismo interpretam que não precisam melhorar o que vêm fazendo; os xenófobos ampliam sua arrogância; os políticos ganham um atenuante permanente.

Parece que quem reclama de Florianópolis não estaria se divertindo o suficiente, captando o que há de bom na cidade, entendendo seu ritmo. As pessoas não percebem que criticar o lugar em que se vive tem a ver, muitas vezes, justamente com o fato de se amá-lo, de ser tão apegado a ele. 


Ilhas gregas

Viajei daqui até a Jericoacoara (CE) de carro, parando em grande parte do litoral brasileiro até lá. Foram 7,7 mil km. Também conheci ilhas gregas e espanholas, assim como muitas cidades à beira-mar de outros países. Nem por isso me animo a fazer comparações absolutas. Primeiro porque aquele orgulho do lugar em que criamos raízes compromete o julgamento; depois, há coisas demais a serem levadas em conta num comparativo entre duas cidades.

Em todo caso, comparar certos aspectos não só é possível como é ótimo exercício autocrítico.

Como o restante de Santa Catarina, Florianópolis tem uma alfabetização acima da média nacional (menos de 3% da população, segundo as estatísticas oficiais, não sabe ler). Culturalmente, porém, não entraríamos num possível top 10 com as capitais do país. Não conseguimos nem reabrir o nosso Centro Integrado de Cultura, o CIC.

E o tão alardeado estilo da Lagoa da Conceição? A inventividade dos barzinhos é pífia e entradas são cobradas a troco de nada especial. Na pequena Arraial D’Ajuda (BA), entrei de graça em um bar com uma ótima banda ao vivo – algo comum na Europa, onde geralmente se lucra apenas com o consumo dos clientes. Logo, lá em Arraial, um homem que tocava músicas no saxofone para uma loja próxima veio caminhando. Abriu espaço entre o público do barzinho, subiu no palco, pediu à banda um microfone para ampliar o som do sax e entrou na bagunça.

Programado, espontâneo? Não interessa. Não temos nada parecido na Lagoa.

Em diversas festas, eventos, guias, nossa cidade é vendida como Ibiza ou Saint-Tropez. Tem provincianismo maior? Nada contra incluir um suposto glamour como argumento turístico, mas que tal vender Florianópolis como... Florianópolis?

E assim segue. No todo, Florianópolis compila uma natureza interessante com uma alma louvável. Nem por isso é suprema como dizem. Não tem a natureza do Rio de Janeiro. Não tem o zelo e apelo turístico de lugares como Jericoacoara, Morro de S.Paulo, Mallorca, Fernando de Noronha (em Jeri, por exemplo, há uma loja da Havaianas com as paredes todas de vidro e o chão de areia). Na ilha grega de Mykonos, como em tantas cidades europeias, estilosas mesas convidam a almoços no meio da rua. Por que não fazemos isso em Santo Antônio? Por que só fechamos as ruas para carros no carnaval?

Isso tudo não quer dizer que não tenhamos uma cidade acima da média. Temos. Reconhecer essas coisas é só o ponto de partida de tantas melhorias necessárias à ilha. Não podemos nos amar a ponto de não enxergarmos nossos poréns.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

NÃO GOSTO

Fonte: Revista Naipe
01/08/2011

Na contramaré da popularidade ilhoa, moradores reclamam ampla e empolgadamente de Florianópolis


Final de tarde na Praia das Palmeirinhas, na região continental de Florianópolis (Thiago Momm).

“Qual o limite de linhas?”, pergunta a universitária à Naipe durante a entrevista por email. “Porque eu já respondi as perguntas, mas sempre tem mais material quando o assunto é falar mal de Florianópolis.”

Sim. A Florianópolis elogiada pelo New York Times, adulada pelos guias turísticos, sacralizada pela mídia em geral não é, como fazem crer, uma grande ciranda de moradores cantando de mãos dadas o Rancho de Amor à Ilha – ou pescando a própria tainha no final de tarde, como descreveu a Veja em matéria mais elogiosa que a canção de Zininho.

A Naipe não encontrou pesquisas que questionem isso, mas, para tentar conhecer melhor a opinião de quem não compra a ideia de Floripa-paradise, lançou uma enquete online: “Você gosta de viver em Florianópolis?”. Ao final, 170 pessoas responderam as três perguntas. Os resultados:

"Você gosta de morar em Florianópolis?" 
  • Razoavelmente, sei dos problemas da cidade mas não deixaria de viver aqui: 63%
  • Não gosto. Quero ir morar em outra cidade: 21% 
  • Sim, muito. Jamais me mudaria daqui: 13% 
  • Odeio. Só moro aqui porque sou obrigado: 3%

"Caso não esteja satisfeito, qual seu principal motivo?"
  • Infraestrutura: 32%
  • Falta de opções de lazer/culturais: 20% 
  • Provincianismo: 14% 
  • Mercado de trabalho limitado: 14%
  • Outros: 20%
"Você acredita que Florianópolis é superestimada?" 
  • Sim: 78%
  • Não: 22%


Aglomerado de praias
 
A estudante da Udesc Julie Maillard é do time do “odeio”. Ela não vê a hora de se formar e ir embora: “O problema é que tenho dificuldade de ver Florianópolis como uma cidade. Isso aqui é um aglomerado de praias com um centrinho ‘urbano’ diminuto e que oferece opções na mesma medida em que investe no transporte público – cada vez menos”.

A sua principal crítica é em relação à falta de diversidade: “E antes que comecem com histórias sobre a natureza, praias, Mata Atlântica, Rendeiras e seja lá o que mais, falemos de diversidade cultural, musical, de entretenimento e de públicos. As pessoas esquecem que nem todo mundo que mora aqui é surfista, gosta de praia ou ouve reggae”, destila, e se empolga:

"Sem contar que a impressão que se tem é que a ilha foi enclausurada numa bolha do tempo. Tudo demora uma eternidade pra chegar aqui e mais tempo ainda pra finalmente ir embora. Isso se aplica a filmes, shows, lojas, modismos e qualquer tipo de informação, que parece encontrar na ponte Hercílio Luz uma barreira intransponível."

Não, não é um caso isolado e nem exclusivo de quem veio de fora.

O manezinho estudante de Arquitetura da UFSC Augusto Ramos também acredita que Florianópolis é um deserto cultural, mas o que mais lhe incomoda é a falta de organização. “Aqui nada funciona. O transporte é um lixo, o asfalto é um nojo e o que tem de lazer, além de ser ruim, é caro”. Augusto também se irrita com a mentalidade de moradores que propagam a campanha fora-haole: “É um pensamento mesquinho, como se o nativo fosse melhor do que os outros. Eu sou daqui e sempre fui muito bem recebido em outros lugares”.

Ele pretende se mudar para Curitiba, Porto Alegre ou São Paulo assim que puder: “Sem dúvida aqui é melhor pra passar férias do que pra morar”.

Não pode falar mal
 
A estudante de moda Tchéri Netto, que morou a vida toda na ilha, costuma receber muitas críticas à sua opinião negativa sobre Floripa. “Acho que as pessoas aqui têm mentalidade muito pequena. O mundo evolui, as pessoas evoluem, mas parece que a ilha fica estagnada naquele comportamento de cidade de interior.”

“Em São Paulo ninguém fica ofendido com quem fala mal da cidade, não tem esse orgulho todo”, avalia o jornalista Luiz Augusto Fakri. Paulistano, ele veio todo faceiro estudar na UFSC em 2001, animado com a possibilidade de viver o sonho do eu-moro-onde-você-passa-férias. Mas desencantou. Percebeu que pegava o mesmo trânsito que em São Paulo, passou a ouvir comentários sobre “roubar vaga dos outros na universidade” e se deu conta de que preferia cidades maiores.

Assim que se formou, ele voltou para a capital paulista: “Gosto de Florianópolis, mas não voltaria a morar aí porque sou mais urbano. Floripa não é pequena de população, mas tem uma mentalidade de cidade pequena. Não é que eu não goste das pessoas, tenho muitos amigos aí. Só acho a mentalidade imatura pro que a cidade é.”